Trabalho



A cidade de Guanambi localiza-se no Centro-Sul Baiano, região caracterizada pela ocorrência cíclica da seca, pela economia baseada na agropecuária e por uma população em constante migração, devido às precárias condições de vida aí predominantes. Esse conjunto de fatores condiciona a formação de um sistema urbano heterogêneo e de articulação frágil, cuja desigualdade é expressa no espaço através das relações que são estabelecidas entre seus diversos componentes.
 
Guanambi tem uma área relativamente pequena, são 1.296 Km². A população total do município é de 78.833 habitantes, sendo 62.565 urbana e 16.268 rural (IBGE, 2010). Sua área faz limite com os municípios de Igaporã, ao norte; Caetité, a nordeste; Pindaí, a leste; Candiba e Sebastião Laranjeiras, ao sul; e Palmas de Monte Alto, a oeste. Distante 796 km de Salvador, é a sede da microrregião de Guanambi composta por 18 municípios sobre os quais exerce forte influência comercial. De acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2000), Guanambi situa-se na região econômica conhecida como Serra Geral (Figura 1) e é considerada um pólo dinâmico da economia do Estado da Bahia.
 
O município de Guanambi apresentou nas últimas décadas do século XX um acentuado crescimento de sua população. Com base nos dados da tabela 01 percebe-se que no censo populacional de 1970, foi encontrado um total de 31.174 habitantes, dos quais 11.188 (35,89%) viviam na área urbana e 19.986 (64,1 %) eram residentes da zona rural. Em 1980, a população total passou para 45.520 habitantes, sendo 24.944 residentes na área urbana, o que elevou a taxa de urbanização de 35,9% em 1970 para 54,8% em 1980.
 
Pela análise dos dados da referida tabela, é notório o crescimento demográfico de Guanambi entre 1980 e 1991. Este acelerado crescimento urbano explica-se pelo fato de ter sido este o período em que o município teve a mais significativa área de plantio de algodão do estado, com uma produção anual que, de acordo com o IBGE, atingiu as 240.000 toneladas em 1988. Obviamente, foi um momento de grande crescimento econômico e de geração de emprego e renda, o que muito contribuiu para atrair a população da zona rural e das regiões circunvizinhas. O município recebeu um contingente populacional diversificado, eram trabalhadores temporários interessados na colheita do algodão que vinham de várias partes da região, e ainda, outras pessoas interessadas em investimentos diversos na cidade ou à procura de trabalho nas indústrias beneficiadoras de algodão que eram implantadas no município.
 
O algodão era produzido no Vale do Iuiu, parte da microrregião de Guanambi formada pelos municípios de Guanambi, Malhada, Palmas de Monte Alto, Sebastião Laranjeiras e Iuiu. Entretanto, a elite empreendedora fundiária desta cultura estabeleceu moradia na cidade de Guanambi o que contribuiu para que esta cidade recebesse investimentos em infraestrutura urbana, rodovias, aeroporto, usinas de beneficiamento de algodão, etc.. Surgiram os bairros luxuosos com suas belas mansões, mas também teve origem os bairros populares e as favelas para abrigar os trabalhadores que vinham de fora. Dessa forma, conforme Milton Santos, "a cidade torna-se o locus da regulação do que se faz no campo" (2005, p. 56) modificando-se para atender às exigências do campo, respondendo às suas demandas e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas.
 
O quadro de prosperidade econômica e social da economia algodoeira deu lugar a uma cri-
se, a partir de 1990, que não mais se reestruturou para alcançar o mesmo desenvolvimento. Isso se deu em virtude de fatores como estiagens prolongadas, proliferação de pragas, falta de incentivos governamentais devido a mudanças na política agrícola do governo, endividamento dos produtores, concorrência com os preços externos, e outros.
De acordo com Ozenice Santos, vários foram os fatores que levaram a região do ouro bran-
co a apresentar sinais visíveis de crise: mudança na política agrícola do governo com retração de financiamentos bancários; indexação de custeios e inflação que ocasionou o endividamento dos produtores; problemas de ordem climática e o surgimento da praga do bicudo; problemas de ordem tecnológica, envolvendo o uso de sementes certificadas; limitações do uso de fertilizantes; manejo deficiente dos tratos culturais e fitossanitários e até mesmo o baixo nível de instrução dos produtores e, por último, concorrência com os preços externos de menor valor em função de se produzir com maior tecnologia, o que levava à redução dos custos. (2004, p. 96 – 97).
O montante dos prejuízos foi incalculável, não somente do ponto de vista econômico como também do social. Os milhares de postos de trabalhos extintos com o fechamento das usinas representaram, talvez, o mais penoso de todos os danos para a sociedade regional. O tempo das riquezas provindas do "ouro branco" acabou. O título de "Capital do algodão" foi perdido a partir de 1992, com a queda na produção levando os produtores a buscarem outras áreas nas regiões do Médio São Francisco (Bom Jesus da Lapa) e da região Oeste (Barreiras). Mesmo em decadência, a cultura do algodão permaneceu no Vale do Iuiú, situado na bacia do Rio das Rãs, afluente do São Francisco, com baixos índices de produtividade e qualidade.

Em Guanambi as conseqüências foram drásticas para a sociedade: postos de trabalho foram fechados, economia em recessão, aumento do número de desempregados, famintos e pedintes, o que agravou as desigualdades sociais já marcantes no município. Constatou-se que a maioria das usinas foi desativada ou vendida e reinstalada em outros estados, a exemplo de Rural, Agriverde, Sambra e Bial, transferidas para Mato Grosso do Sul e outras levadas para Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães no Oeste Baiano.
Neste contexto, nota-se que essa crise não era apenas agrícola, ela era também urbana, pois era a renda da terra rural que dinamizava a vida do município confirmando a indissociabilidade rural-urbana. Esse fato trouxe uma nova realidade à dinâmica espacial do município que procurou se reorganizar para atender às demandas da população. Os investimentos tanto públicos como privados, voltam-se para os setores de comércio e serviços ampliando o atendimento para as áreas circunvizinhas.
Os dados do censo demográfico de Guanambi em 2000 e 2010 confirmam a tendência ao crescimento urbano verificado nas décadas anteriores. O aumento do índice de urbanização explica-se pela necessidade da população buscar os recursos para sua sobrevivência nos centros da região que podem oferecer as maiores oportunidades de trabalho, estudo e renda. Sendo assim, ora atraídas pelo crescimento da agricultura e da industrialização, ora pelo desenvolvimento dos setores de comércio e serviços, a população da região dirige-se à Guanambi por vê-la como um centro de grandes possibilidades econômicas.
A localização, o porte, as facilidades das vias de acesso e a implantação de serviços públicos básicos têm contribuído para tornar Guanambi um importante pólo regional, que serve a vários municípios da Região, não só com relação ao abastecimento das casas comerciais, mas também no oferecimento de determinados gêneros e serviços.
Entretanto, esse quadro de prosperidade econômica e social deu lugar a uma crise, a partir de 1990, na economia algodoeira, que não mais se reestruturou para alcançar o mesmo desenvolvimento. Isso se deu em virtude de fatores como estiagens prolongadas, proliferação de pragas, falta de incentivos governamentais devido a mudanças na política agrícola do governo, endividamento dos produtores, concorrência com os preços externos, e outros.
 



 

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